Letter to Alice
Eu te venero, não somente pelos teus olhos amendoados e redondos como de crianças, ou pelo seu sorriso de menina. Mas pura e simplesmente porque você transcende o conceito de existência. Você não apenas respira, exala vida. O brilho dos teus olhos revela o reflexo de um feitiço que você dissemina entre os desavisados. Aqueles que já não têm mais nada, e, no entanto, já tiveram de tudo, não suportam lhe encarar. Porque sabem da inveja que carregam ao avistar tamanha felicidade e simplicidade em um ser que transforma a palavra “perfeição” em algo chulo. Pois você não precisa de nada para ser você mesma. Nem de adornos, nem de bens, sua própria mente cria o mundo de fantasias no qual você habita. Você colore as calçadas sobre as quais caminha, com seu passo confiante, preciso. Com a leveza de um anjo, e o bom senso de um sábio, e as feições delicadas, que nem mesmo uma criança jamais sonhou em ter. Acredite, todos nós já sonhamos com você. E, Deus sabe, eu mal consigo suportar quando você sorri. Pois tudo parece tão simplório, que seria aceitável pensar que o sol até brilhou um pouco menos para admirar essa felicidade unicamente sua. O temor toma conta de mim quando cogito dirigir-lhe a palavra, por não saber o que seria de mim ao ouvir sua voz, ou mesmo se eu conseguiria alcançar o fôlego encarando seus olhos risonhos. E eu me penitencio por refletir sobre isto. Por me imaginar invadindo seu sonho cristalino e pisando na grama brilhosa e esverdeada com meus sapatos de chumbo. Por saber que traria comigo um borrão cinza no bolso, que mancharia sua pintura, que murcharia sua explosão multi-cromática. Se é que é possível um tolo mortal sequer atingir sua singular essência. Essência esta que eu almejaria saborear no último dia de minha vida, e assim me daria por completo. Mesmo que apenas um gole, ou uma gota. Pois você estará sempre lá, enquanto nós definhamos perante o seu encanto.
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