Último desejo
"Eis me aqui, escrevendo-lhe novamente. Desta vez, não é para lhe destinar palavras que carregam carinho ou afeição. Nem para declarar sentimentos. Muito menos para mencionar a felicidade que eu possuí estando ao seu lado. Não escrevo para pedir-lhe beijos ou afagos. Há muito estou ciente de que estes estão fora de meu alcance. Estou aqui, não só pedindo, mas suplicando. Encontro-me revolta em angústia e temor. Receio que nada mais seja infinito em minha vida. Sombras tomaram o lugar daquilo que antes era contente e belo. Encontro limites a cada passo que dou, obrigando-me a voltar mais uma vez e fazê-los de novo, transformando meus caminhos em trilhas tortuosas e suspeitas. Não lhe pediria algo inalcançável, inatingível, extravagante. Mas algo que só você logrará em conceder-me. Não é algo simples, como uma quantia em dinheiro ou uma roupa cara. Nem algo físico como um beijo ou um abraço, como eu já mencionei anteriormente. É algo como o que você sente na curva vertical de uma cachoeira borbulhante. Ou o ar que você respira no mais alto dos montes de um amplo jardim de um verde inigualavelmente fulgor. Ou a angústia reprimida em seu ventre em uma queda que parece interminável, enquanto o vento gélido bate em sua face e abrange seu corpo como um abraço de infinita liberdade...é isso! Creio que alcancei o ponto que necessitava... Eis tudo o que lhe peço: minha tão distinta e merecida liberdade. Meu coração anseia por esta como um animal faminto anseia por sua presa viva e deleitosa. Porque diz que quer o melhor para mim, embora ainda me mantenha em suas mãos? Como poderei fazer o correto se as sombras de seus dedos fechados ensombram meu rosto? Esta preocupação com o que eu farei não é necessária...Só desejo a liberdade. Não posso mais viver acorrentada a uma única pessoa, enjaulada por um único sentimento, desencorajada a viver por uma única razão... Emancipe-me, é tudo que eu lhe peço. Deflagre os limites, aparte a escuridão, extraia-me desta aflição constante. Não me resta muito tempo nesta condição, seja breve, e tudo será como antes."
Comentários
Essa parte aqui foi genial: "É algo como o que você sente na curva vertical de uma cachoeira borbulhante". E liberdade é sempre uma coisa a se pensar, toquei nesse assunto ontem com uma amiga. Nem sempre um ato involuntário é um ato livre; e, às vezes, a gente involuntariamente se prende, a gente mesmo se coloca numa prisão. Muito estranho...
Beijos, mocinha.